Memória
Entrevistas com quem conheceu Sidónio Muralha Neste espaço colocaremos entrevistas com pessoas que conheceram Sidónio Muralha em vida. As entrevistas ainda estão sendo realizadas. Se você conheceu Sidónio, entre em contato para fazer seu relato. O escritor e poeta Leopoldo Scherner, foi curador da Fundação Sidónio Muralha, conheceu Sidónio em vida e analisa sua obra no texto a seguir. Texto: Sidónio por Leopoldo.
Sidónio Muralha – Literatura Infantil

Leopoldo Scherner
A artigo analisa a obra de Sidónio Muralha focando em dois aspectos centrais: apreensão e esperança. Leia carta de Carlos Drummond de Andrade a Sidónio Muralha no final do artigo. "Quanto à apreensão e esperança, assume feições proféticas, proféticas no sentido bíblico e no sentido de visões futuras. Explico a apreensão, sobretudo no que diz respeito à ecologia. Sidónio Muralha antecipou-se em muitos anos quanto às preocupações ecológicas que, hoje, assustam muito mais do que assustavam no seu tempo. Neste ponto, ele foi profeta de ver o futuro que, presente hoje, assume proporções de calamidade."

 

            Sidónio Muralha, lisboeta (alfacinha), nasceu em 1920. Filho de jornalista. Transformou-se em poeta viajante, em viajante poeta: “Andei por 20 e tantos países...”. E aí está o Congo (hoje República da Zaire) – para onde emigrou em 1943 (23 anos!) -, a Guiné, Angola, Moçambique e... o Brasil. Volta a Portugal somente após a Revolução dos Cravos: 25 de abril de 1974. Vindo da África, fixou-se no Brasil. Aqui, se casou com a médica Drª. Helen Butler Muralha. Faleceu em 1982.
Esta, a biografia.
Conhecido em Portugal e no Brasil. A partir de 1942, passa a integrar a coleção Novo Cancioneiro, que introduz o Neo-Realismo em Portugal.
Detentor de muitos prêmios literários, distinguiu-se como autor – poesia e prosa – de livros infantis – pra mais de 15 -, que vamos tentar analisar, estudar.
Para este trabalho, lemos, analisamos e estudamos os livros seguintes, publicados em Lisboa, Rio de Janeiro e São Paulo, a maioria, em Lisboa:

1.       Bichos, Bichinhos e Bicharocos  – Lisboa, 1950 e1997
2.       A Televisão da Bicharada  – São Paulo, 1962
3.       Um Personagem Chamado Pedrinho  – São Paulo, 1972
4.       Companheiro  – Lisboa, 1975
5.       A Amizade Bate à Porta  – Lisboa, 1975
6.       Valéria e a Vida  – Lisboa, 1976
7.       Sete Cavalos na Berlinda  – São Paulo, 1977]
8.       Todas as Crianças da Terra– Lisboa, 1978
9.       Film en Couleur  – São Paulo, 1981
10.      Catarina de Todos Nós
11.      Os Olhos das Crianças – Curitiba, 1983
12.      Rouxinol e a sua Namorada

  • Terra e Mar Vistos do Ar

A Literatura Infantil de Sidónio Muralha é escrita em prosa e verso. Entretanto, não sei se mais poéticos os livros escritos em prosa, se os em verso. Os escritos em prosa com mil milhentos recursos poéticos, os escritos em verso, poéticos pela própria natureza.
Podemos analisar a Literatura Infantil, trabalhando-a cronologicamente ou trabalhando-a distinguindo-a em prosa e verso. Prefiro, primeiro, fazer-lhe uma análise geral, apresentar-lhe as características gerais, passando às obras em prosa e indo, depois, às obras em verso.
Para chegar às crianças, Sidónio Muralha recorre à simpatia dos animais, cujo comportamento conhece muito bem, usando deste conhecimento em benefício das crianças. Oportunamente, pretendo nominar toda a fauna enfocada por Sidónio Muralha.
Segundo me parece, dois fatores principais perpassam a obra de Sidónio Muralha em sua aproximação com as crianças: a apreensão e a esperança. Note-se que para ele existe a criança pura e simples e absoluta, não distinguindo absolutamente raça e cor. Ver: Todas as Crianças da Terra.
Quanto à apreensão e esperança, assume feições proféticas, proféticas no sentido bíblico e no sentido de visões futuras. Explico a apreensão, sobretudo no que diz respeito à ecologia. Sidónio Muralha antecipou-se em muitos anos quanto às preocupações ecológicas que, hoje, assustam muito mais do que assustavam no seu tempo. Neste ponto, ele foi profeta de ver o futuro que, presente hoje, assume proporções de calamidade.
Mas ele deposita as suas esperanças nas crianças, por elas demonstra o máximo amor, de modo delicado e incisivo, numa linguagem infantil, mas não infantil, muito escorreita, muito nossa, acusando, às vezes, o ser português, homem das sete partidas do mundo, lindamente português. O seu amor pelas crianças é apaixonado e apaixonante. Com amor, ele soube conquistar o amor das crianças, conhecendo-lhes a psicologia, as preferências e os conteúdos mais significativos e a linguagem para alcançar os seus objetivos. Um dos recursos muito eficientes de que lança mão para chegar ao que quer chegar é a assonância, quer no verso, quer na prosa.
Sidónio Muralha é um homem sério, crítico, com alma de criança, por isso goza da liberdade de se achegar a elas, e elas dele se aproximam e o entendem.

Um Personagem Chamado Pedrinho – O título deste pequeno livro – os livros de Sidónio Muralha são pequenos, mas são sempre pequenos grandes livros – o título deste pequeno livro me faz lembrar Humberto Eco, quando diz que os títulos existem para “enganar” as pessoas: as pessoas que vão fazendo suas descobertas e que vão desvendando os enigmas dos livros. Estou fazendo tal referência porque Um Personagem Chamado Pedrinho conta a vida de Monteiro Lobato para apresentar e descrever a psicologia de um dos seus personagens, de suas criaturas, que é Pedrinho, vivo, inteligente, inquieto, perguntador.
Importante: o contador da história faz uma observação histórica para a Literatura Brasileira:
“O curioso, Pedrinho, é que Lobato nesse momento ainda não sabe que está, aos poucos, criando a literatura infantil brasileira.” (p. 27).
E, referindo-se a Monteiro Lobato, referindo-se às crianças, ele – Sidónio Muralha – refere-se a si mesmo:
“... seus maiores amigos, as crianças ...são o futuro.” (p. 34).
Outra nota com as mesmas indicações:
“Como é salutar falar com as crianças.” (p. 36).
Em livro, em conversa de Sidónio Muralha com as crianças, não podem faltar os animais. Em Um Personagem Chamado Pedrinho, aparecem: a onça, o rinoceronte, o tucano, o cavalinho, a galinha, a cobra, o porco, a águia, o gavião, o papagaio, o cachorro e a centopéia.
Todas as Crianças da Terra – Sidónio Muralha fala neste livro de paz e amor; o livro é uma mensagem de paz e amor. É lindo. Se, em outros livros, recorre a animais, neste apenas, simbolicamente, poeticamente, aparecem três: a pomba, o pardal e a abelha, na sua simplicidade e na sua complexidade. Livro em prosa, porém altamente poético. O que é a paz? Resposta: é a pomba, é o casal de namorados, são os pardais de Lisboa, é o riacho, é a calma do caminho, é o livro, é a vela no mar, é o cabelo da menina, é o trabalho, é o pão, é a mesa, é o trigo, é o milho, é a mãe, é o canhão que manda flores em vez de balas, é o abraço, são as gotas de chuva, é o arco-íris, é a família, é a onda, é a vida sem grades, são as abelhas que dão o favo e o mel, “são as papoulas vermelhas que eu desenho no papel”, é a ventarola, é o moinho, são os meninos que vão à escola, é o luar, são as conchas, são os búzios, é o povo unido, é o balão subindo no céu azul, são as madrugadas, são as crianças de mãos dadas, as crianças de mãos dadas, as crianças de mãos dadas... E eu pergunto: existe melhor definição de paz?
Valéria e a Vida – Mensagem às crianças: é preciso salvar a natureza, daí as preocupações ecológicas e o combate à poluição: tome-se consciência, as crianças estejam informadas de que a água é a vida e saibam o que salvar: o riacho está poluído, a chuva está poluída, o ar está poluído, o solo está poluído.
Este livro, Primeiro Prêmio de “O meio ambiente e a Literatura Infantil”, em Portugal, 1976, é escrito com grande otimismo, como, aliás, sempre acontece com Sidónio Muralha. O fonema V, com certeza é o vento que sopra em todas as direções levando a mensagem do poeta na voz das crianças para salvar a natureza. Daí Valéria e a Vida. Valéria nos remete à forma verbal latina vale, em sua mensagem profética, saudando o mundo.
Leia-se a propósito:
Cabelo ao vento
Valéria avançava no vale
no verde vale,
Valéria.
Sete cavalos na Berlinda – Trata-se de um livro que deve ser lido em voz alta, sempre poético e surrealista.
Os animais que aqui se destacam são os cavalos “aos saltos na estrada do asfalto”.
O recurso infantil de repetição é constante:
Agapito apitou
...soprou o apito..., senhor Agapito?
A rima é uma constante neste texto em prosa:
salários e operários
amarelo e belo
cansado e parado
automóvel e imóvel
cavalos e buscá-los
berlinda e linda
Terra e Mar Vistos do Ar – Livro ecológico, com objetivos ecológicos e patrióticos. Escrito para crianças, mas visando à condenação ao fascismo. Pela mensagem patriótica que contém, devia ser lido nas escolas. Preza a paz entre as pessoas e entre os povos, condenando toda a sorte de escravidão. Uma mensagem importante que precisa ser sublinhada: “A terra também pertence àqueles que ainda estão por nascer.
Passemos, agora, à análise de 4 livros escritos para crianças, mas com o objetivo de atingir os adultos da época. São livros de fundo político, mas sempre poéticos e de caráter também social: O Companheiro, Catarina de Todos Nós, A Amizade Bate à Porta, Os Olhos das Crianças.
O primeiro: Os pássaros o chamavam de companheiro, tão próximo era deles e os entendia tão bem. Crítica ao fascismo e às lutas políticas em África: Pide. No entanto, é um hino de esperança, pois, ao final de tantas lutas, o bem acabará vencendo o mal.
O segundo: Trata dos fascistas contra os progressistas. Catarina é uma lutadora alentejana, mártir, vítima do fascismo. Casada, pobre, três filhos. Assassinada friamente por um tenente prepotente.
O terceiro: Escrito para as crianças visando aos adultos e criticando a existência das colônias portuguesas em África. Cheio de otimismo, prega o amor à natureza – pássaros, animais em geral, o arco-íris (uma das preferências de Sidónio Muralha). Sendo contra a existência das colônias, prega, em contrapartida, a solidariedade entre os homens.
O quarto: são 25 poemas de preocupação social. São os olhos das crianças que querem ver um mundo melhor, de justiça, igualdade e fraternidade:
Os olhos das crianças
Atrás dos muros altos com garrafas partidas
bem para trás das grades do silêncio imposto
as crianças de olhos de espanto e de medo transidas
as crianças vendidas alugadas perseguidas
olham os poetas com lágrimas nos olhos.
Olham os poetas as crianças das vielas
mas não pedem cançonetas, mas não pedem baladas
o que elas pedem é que gritemos por elas
as crianças sem livros sem ternura sem janelas
as crianças dos versos que são como pedradas.
Vamos aos livros em verso: Bichos, Bichinhos e Bicharocos. São nove poemas infantis, três dos quais com música de Francine Bénoit. Cada poema leva como título um nome de animal. O papagaio, muito crítico e falador, faz crítica à Academia:
“E como põe energia
quando diz tudo e diz nada
faz parte da Academia
da ilustre bicharada.”
Livro muito apropriado ao gosto das crianças, nele se encontram alguns lusitanismos (o livro foi impresso em Lisboa): papá, mamã, “não me dou consigo” , “...eu farei de si...”.
Se o título do poema leva o nome de animais, muitos outros animais aparecem no interior dos poemas. Por ser do gostos das crianças, não fujo ao prazer de os nominar: papagaio, bicho-de-conta, marreco, pato, cão cãozinho, peixe, joaninha, macaco, sapo, sapinho, sapo, sapão, cegonha, formiga, lagartixa, galo, esquilo, cuco, grilo, grilões, urso, gralha. Como se vê, aparecem os bichos mais inesperados.
Com a gralha, aproveita o duplo sentido que a palavra tem: a ave e o erro tipográfico.
Notar, ainda, que, se o título é Bichos, Bichinhos e Bicharocos, no oitavo poema do livro escreve: Bichos, Bichinhos e Bichões.
A Televisão da Bicharada – Com muito humor e otimismo, patenteia-se a natureza como num aparelho de televisão com a bicharada alegre, positiva e carinhosa. É um mundo de animais, equilibrando-se os pássaros, total de 15, com outros representantes da fauna, total de 17. (Aliás, levando-se em conta toda a obra de Sidónio Muralha, aparecem 59 nomes de aves e 62 nomes de outros animais.) Equilíbrio bem pensado, bem calculado, como o fizeram Camões e Fernando Pessoa. Não posso deixar de apresentar na tela desta televisão os exemplares do reino animal que Sidónio Muralha apresenta: patinho, pato, esquilo, coelho, girafa, sabiá, gata, gatinha, gato, gatão, pássaro, tem-tem, gente-de-fora-vem, cabrinha, colibri, tucano-de-bico-verde, tucano, tico-tico, tatu, zebra, joão-de-barro, burro, ovelha, formiga, papagaio, cardeal, bem-te-vi, pardal, andorinha, peru, peixe, borboleta, elefante, bicho, pulga.
O Rouxinol e a sua Namorada – Vinte e dois poemas, todos com nome de animal por título, aparecendo no interior dos poemas outros 26 nomes de animais. 22+26=48 ® é enfadonho os relembrar. Mas é hora de se perguntar: Que animais terão sido excluídos da lista de Sidónio Muralha? Muito poucos, talvez nem um daqueles que são próximos do homem ou das crianças.
Ele canta a beleza do reino animal, mas não se esquece de dar lições aos homens. Vejam o poema Pintassilgo:
O pintassilgo diz:
- nada me consola,
eu não sou feliz
nesta gaiola.

Do céu azul e da amplidão
eu sinto muitas saudades.
Não quero esta solidão
cada minuto e segundo.

Crianças, quebrem as grades
de todas as gaiolas do mundo.
Film en Couleur - Livro escrito em francês, apresentando-se como um filme. Lembra  A Televisão da Bicharada com os numerosos animais que aparecem.
O poema Bonne Nuit, no livro A Televisão da Bicharada está assim:
Boa Noite
A zebra quis
ir passear
mas a infeliz
foi para a cama
- teve que se deitar
porque estava de pijama.
Em Film en Couleur :
Bonne Nuit
Un zèbre voulais
se promener
mais
cela
n’allait
pas.

Il a dû aller
se coucher
parce quíl était
en pyjama.

Finalmente, a idéias de Sidónio Muralha que, como não podia ser diferente, correspondem, num seu depoimento, às idéias expressas em todo o tempo em prosa e verso:
Roteiro
Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se caráter custa caro
pago o preço.

Pago embora seja raro.
mas homem não tem avesso
e o peso da pedra eu comparo
à força do arremesso.

Um rio, só se for claro.
Correr sim, mas sem tropeço.
Mas se tropeçar não paro
- não paro nem mereço.

E que ninguém me dê amparo
nem me pergunte se padeço.
Não sou nem serei avaro
- se caráter custa caro
pago o preço.
Vejamos seu depoimento, que foi dado no Ano Internacional da Criança, em 1979, 20 anos após a Declaração dos Direitos da Criança, de 20/11/59.
Se todo o Carinho de Sidónio Muralha,
se todo o respeito de Sidónio Muralha,
se toda a ternura de Sidónio Muralha,
se toda a esperança de Sidónio Muralha,
se todo o Amor de Sidónio Muralha
foram para as crianças,
para os responsáveis pelas crianças, suas palavras foram ferinas
e não lhes perdoou o desamor para com elas:
“só a sensatez e a generosidade podem salvar um futuro gravemente comprometido pelos gananciosos, os corruptos, os que passeiam sobre a miséria alheia, os que consideram que uma conta polpuda em um banco é a única finalidade da vida.”
Ante os problemas das crianças, principalmente nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, diz Sidónio Muralha:
“Os homens que têm consciência, se envergonham. Os outros não têm vergonha, nem consciência.”
E mais:
“Chegou o momento de nos perguntarmos quando é que os donos e os senhores do mundo, que trazem nas pesadas patas a ferradura do egoísmo, deixarão de descer os degraus da infância.”
Para não terminarmos nossa fala de maneira desalentadora, vamos ler um poema de Sidónio Muralha dedicado às crianças que ele tanto amava e pelo bem das quais escreveu tantos livros de tanta beleza e valor:
Dia de Festa
A floresta
acordada
pela madrugada
de um dia
de festa
abria
a saia rodada
e a madrugada
sorria
sorria à floresta
na madrugada da festa.

A alegria
estava lá
a poesia
estava lá,
mas onde estava a alegria
mas onde estava a poesia
só sabia
o sabiá.

Só o sabiá
sabia
sabia
o que havia

- era um sábio o sabiá.
Dono
do dia
da festa
e dono
da madrugada
só por ele a floresta
despertada
do seu sono
abria
a saia rodada.

E tudo o que lá
havia,
e tudo que havia
lá,
que se chamasse alegria
que se chamasse poesia
só sabia
o sabiá.
Ouçam como ele assobia,
assobia
o sabiá.
(A Televisão da Bicharada)
* Palestra proferida pelo Professor Leopoldo Scherner (PUC-PR), na Fundação Sidónio Muralha, em 11 de outubro de 1997.

Outros livros escritos por Sidónio Muralha:

  • Esse Congo que foi Belga - Brasiliense
  • A Companheira dos Homens in Poemas, Nova Editorial
  • Quando São Paulo Só Tinha Quatro Milhões de in Poemas, Nova Editorial
  • O Pássaro Ferido – Nórdica
  • Poema para Beatriz
  • O Homem Arrastado  - Atlântida, Coimbra
  • Poemas de Abril – Prelo, Lisboa
  • O Andarilho – Prelo, Lisboa
  • A Mulher Submissa – Prelo, Lisboa
  • A Caminhada – Prelo, Lisboa
  • Valéria, Valéria

Obras infantis recentemente editadas e reeditadas pela Global Editora:

  • A Televisão da Bicharada  – São Paulo, 1997
  • Sete Cavalos na Berlinda  – São Paulo, 1997
  • O Trem Chegou Atrasado  – São Paulo, 1998
  • A Dança dos Pica-Paus  – São Paulo, 1998
  • A Revolta dos Guarda-Chuvas  – São Paulo, 1998
  • Os Três Cachimbos  – São Paulo, 1999

Carta de Carlos Drumond de Andrade a Sidónio Muralha

Rio, 14 de maio, 1979.

Caro Sidónio Muralha:

            Tantas finezas a agradecer-lhe – e o tempo fugindo como água nas mãos; estas mãos de setenta e muitos anos...
Tanto “Bichos, bichinhos e bicharocos”, nas duas edições (cada qual mais atraente) como nessa coisa encantadora que são os poemas de “Film en coleur”, encontro a marca de sua humanidade poética, para quem a vida é um todo sensível – bichos e gente unidos na mesma essência. Com “humour” e coração, você anulou a fronteira entre uns e outros, desvendando-nos as verdades profundas da natureza.
Seu telegrama de março ajudou-me a romper o desânimo da gripe. Foi um mês difícil, com doentes em casa, e sem empregada. Isso atrasou muito a minha correspondência, já de si impontual apesar da vontade que eu tenho de mantê-la em dia.
Vou ver se, do fundo da minha falta de jeito, mando a Alexandre Cabral uma palavra de conforto, na hora triste que ele está vivendo.


                                               Por tudo, o abraço de agradecimento pleno e cordial do seu

Carlos Drummond de Andrade