Pedro Sidónio de Araújo Muralha nasceu em Lisboa, a 29 de julho de 1920, filho de Beatriz Araújo (profissão desconhecida) e de António Pedro Muralha (jornalista, ligado ao antigo Partido Socialista e ao sindicalismo). O seu pai fez parte do grupo de socialistas que a apoiou Sidónio Pais e terá sido em homenagem a esse político conservador que deu o nome ao filho. Fora da escrita, Pedro Sidónio fez carreia no mundo empresarial, trabalhando como agente de seguros em Portugal e como gerente, formador e especialista em organização para o grupo empresarial Unilever, na África, com um período intermédio mais breve na Europa. A sua escrita motivou a perseguição política das autoridades portuguesas, nos anos 40, provocando o seu exílio,Nas letras, assinou como Sidónio Muralha, depois de uma breve fase de autodescoberta as preocupações estéticas e sociais da sua produção literária levaram-no a aderir ao movimento neorrealista, participando na coleção “Novo Cancioneiro” (com o livro Passagem de Nível).
Biografia de Sidónio Muralha
O seu primeiro livro Beco foi bem-recebido, tendo tido o incentivo do professor e militante comunista Bento de Jesus Caraça. O poeta não claudicou as suas ideias, como reiterou, numa última entrevista, sempre se posicionaria no campo neorrealista. Com uma obra segura como poeta, também experimentou a ficção em prosa e o ensaio. No entanto, foi na literatura infantil que se veio a notabilizar com uma obra de grande qualidade, desenvolvendo-se na simplicidade da linguagem, vivendo na intemporalidade poética que fala aos corações dos pequeninos e dos mais crescidos. Sidónio Muralha foi pioneiro na abordagem de temática ambiental nos livros para crianças, aspecto que lhe viria a conferir vários prémios. Ao mesmo tempo, sobretudo a sua obra infantil, cultivou a ligação que desenvolveu com artistas de nomeada, como Júlio Pomar, e, anos mais tarde, Fernando Lemos, entre outros.Sidónio Muralha viveu mais de metade da sua vida no exílio. Em 1943, ano em que completava 23 anos, rumou ao então Congo Belga, onde se fixou em Bukavu (trabalhando na empresa SEDEC). Aí, casou com Maria Fernanda de Almeida e permaneceu até ao final da década seguinte. Nesse território nasceram os seus quatro filhos. No âmbito profissional correu mundo, viveu na Bélgica, no Senegal e na Guiné, antes de se fixar no Brasil, a partir de 1962. Nunca deixou de escrever embora tenha tido um hiato sem editar. Na América do Sul, desenvolveu atividades com outras firmas como perito empresarial. Voltou a Portugal por um período curto entre 1949 e 1950, no qual publicou um novo livro de poesia (A Companheira dos Homens), bem como o seu primeiro livro para crianças, Bichos, Bichinhos e Bicharocos, ainda hoje tido por uma das suas melhores obras e uma referência fundamental na literatura infantil em português.
Estabelecido no Brasil, travou amizade com o artista plástico Fernando Lemos, com quem desenvolveu uma longa relação criativa. Este tornar-se-ia o ilustrador de grande parte da sua obra infantil, produzida já nos anos 70, tendo também participado no design do livro de poesia Os Olhos das Crianças editado em 1963. A primeira colaboração infanto juvenil de Fernando Lemos com Sidónio Muralha foi Televisão da Bicharada. Trata-se de umas das suas obras mais conhecidas no Brasil, com sucessivas reedições e utilização em meio escolar. O livro venceu o Prémio de Ilustração na Bienal de São Paulo, em 1962, tendo sido um dos cinco títulos publicados originalmente pela “Editora Giroflê”, um projeto editorial de Sidónio Muralha, de Fernando Lemos e de Fernando Correia da Silva, destinado a promover o livro infantil. Para além desse livro, durante a década de 60, publicou sobretudo para adultos. Na década seguinte desenvolveu vários géneros, inclusivamente o ensaio, em textos derivados da sua formação autodidata no jornalismo. Nos anos 70, sobretudo após de revolução de 25 de abril de 1974, em Portugal, publicou, ao ritmo de mais de um livro por ano, vários títulos para crianças entre poesia e prosa. Talvez o mais conhecido, Valéria e a vida veio reforçar as preocupações ambientais e os valores ecológicos do autor, cujas narrativas focam problemas persistentes e com acutilante atualidade.
Nesse período, faleceu a sua primeira esposa. Apaixonou-se e veio a casar-se com a médica paranaense Helen Anne Butler, fixando-se definitivamente em Curitiba. Vivendo no Paraná, foi editando vários “poemas-livro” com as temáticas constantes da sua poesia. Esses últimos trabalhos poéticos evocam pessoas fundamentais no seu percurso: a filha Beatriz Muralha; a neta Valéria Muralha; e o grande amigo Alexandre Cabral; bem como um livro inspirado pela referência incontornável da literatura: Luís de Camões. Tido por seu último poema Cântico à Velhice foi editado em cartaz, com design do arquiteto paraense Key Imaguire Junior, um dos grandes amigos de Sidónio nesta última fase.
Sidónio Muralha morreu em Curitiba no dia 8 de dezembro de 1982, estando sepultado nesta localidade. Para além de toda a obra publicada, existem textos dispersos em publicações periódicas que convocam uma sistematização. A beleza na simplicidade de vários dos seus textos convoca os homens e as mulheres à esperança, não os “deixando adormecer” atribuindo a todos(as), através da poesia, da força do seu trabalho e de uma ética da coragem a capacidade de seremos “os agentes da mudança queremos no mundo”, numa paráfrase de Gandhi.
Quadro1 –Sidónio Muralha na toponímia em Portugal
Quadro 2 –Sidónio Muralha na toponímia no Brasil
Escola Municipal Ensino Fundamental Sidônio Muralha
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